Batinas reacionárias e a cruzada digital

Quando um catolicismo claudicante chega ao tempo presente

Resumo

Na história do tempo presente, o processo de virtualização da vida, por meio das redes sociais, envolve a totalidade da vida social e, nela, uma forma reacionária-clerical do catolicismo. O mundo digital foi de promessa utópica de liberdade e igualdade à terra selvagem do algoritmo. Nesse ambiente, indago sobre os significados da ação tradicionalista católica nas redes, especialmente no YouTube. Lanço a hipótese de que a ressurgência reacionária nas plataformas digitais se dá, dentre muitas causas, como resultado da re-inscrição de seu modus vivendi em um duplo contexto, um social-econômico (capitalismo financeiro), outro, político-cultural (subjetividade maquínica). Partindo de uma amostra qualitativa de três canais-personagens católicos e oito vídeos, que foram escolhidos pelo crivo do método interpretativo-crítico e típico-ideal, analiso os signos da “cruzada” digital empreendida pelo catolicismo clerical-reacionário. No contexto do capitalismo financeiro, como modo de organização da vida e comunicação total, a inflação semiótica e a deflação semântica envolvem os atores religiosos nas redes. Na atividade desse catolicismo clerical-reacionário, o signo se hipertrofia, a capacidade de bem interpretar se esvai, impera a desrreferencialização e a conexão se sobrepõe à conjunção. Destaco como um dos resultados desse processo a transformação das batinas em expressão maquínica, mantida por comunicação algorítmica e o narcisismo patológico. A “cruzada digital” produz moralismo fascista político-comportamen-tal e alimenta o discurso político-parlamentar de extrema-direita. Restou a esse catolicismo claudicante a amargura de uma guerra perdida contra o mundo moderno.

DOI: https://doi.org/10.29327/256659.13.2-4