Religião e nacionalismo no Oriente Médio
Resumo
A dicotomia entre religião e nacionalismo é um elemento ideológico no discurso Ocidental da modernidade. Esta oposição opera não somente na percepção das sociedades ocidentais em relação às outras sociedades e culturas como também serve de baliza para a compreensão da própria ideia de Ocidente, vinculada a uma experiência histórica única de secularização e racionalização. Esta visão reflete uma perspectiva tradicional das ciências sociais sobre o processo de modernização que é descrito como um processo relativamente homogêneo e abstrato, tendo como modelo a história européia. Nesta perspectiva, a religião é caracterizada como um artefato social arcaico cuja existência na modernidade é um mero resquício de tradições antigas que deverão ser paulatinamente suprimidas e substituídas. Esta interpretação do processo de modernização levou alguns pesquisadores do nacionalismo a argumentarem que a nação moderna oferece um modelo de sociedade secular que preenche o vácuo cultural e social deixado pelas desestruturação da religião no mundo moderno. Contudo, outros autores, como Peter Van der Veer (2013) questionam estas dicotomias: modernidade/tradição e nação/comunidade religiosa, e argumentam que tanto a nação quanto a religião são transformações modernas de tradições e identidades passadas. Ou seja, estes autores chamam a atenção tanto para as rupturas quanto para as continuidades subjacentes às grandes transformações sociais e políticas no mundo contemporâneo. Concordando com a ideia posta por Benedict Anderson (2008) que caracteriza as nações como “comunidades imaginadas”, Van der Veer observa que, contudo, as nações não são imaginadas a partir do nada. Elementos pré-modernos, como língua, etnicidade e religião, são apropriados e reinterpretados pelo imaginário nacionalista. Diante disso, o presente trabalho realiza estudo sobre o papel da religião nas ideologias nacionalistas em países do Oriente Médio – Egito, Turquia e Irã – e, com isso, busca-se observar como os símbolos religiosos são apropriados pelo nacionalismo ou, por outro lado, como podem contestar uma identidade nacional dada. Deste modo, é realizada uma abordagem histórica comparativa entre os três países enfatizando os processos de média e longa duração relacionados à presença de símbolos, valores e identidades religiosas e nos nacionalismos modernos. Em suma, o objetivo do presente trabalho é discutir as relações entre o nacionalismo e a religião na região do Oriente Médio a partir de uma pergunta: A identidade nacional estaria sendo questionada por movimentos religiosos?