Corpo e religião: Notas tanatológica sobre a Irmandade da Boa Morte

Autores

  • Joanice Santos

Resumo

Fundada aproximadamente em meados do século XVIII, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, ao longo de quase três séculos, vem preservando, ainda que reelaborados e reinterpretados, valores numa sociedade ocidental, visto ser ela uma instituição que traz na sua égide traços característicos das vivências africanas ressignificadas no Brasil. Esta irmandade torna-se singular pelas características que seguem: a exclusividade do gênero feminino, o trato com a temática mortuária e, por fim, a pertença ao candomblé e ao catolicismo; marcas fulcrais que a tornam única, quando comparada com as demais irmandades existentes. Contudo, a temática mortuária é algo peculiar e ao mesmo tempo emblemática, já que os tratamentos dispensados aos seus mortos divergem dos cuidados praticados no mundo ocidental, sobretudo no que toca ao medo, na medida em que a morte é um assunto considerado tabu nas discussões em quase todas as sociedades. Desta forma, a Irmandade da Boa Morte não apenas conserva esses elementos, como também cria um espaço exclusivamente feminino. Assim, numa época em que a escravidão limitava a expressão cultural negra, uma irmandade feminina que lidava com a morte era, aos olhos da sociedade mais ampla, uma aberração social; além disso, a pertença ao candomblé era algo proibido em épocas anteriores. Neste sentido, a presente comunicação objetiva discutir o sentido dos ritos mortuários brasileiros, a partir das concepções de vida e de morte das integrantes dessa irmandade, a sua relação com o medo da morte e, por fim, busca entender como a dupla pertença religiosa contribuiu para que o grupo mantivesse traços identitários relevantes.

Palavras-chave: Boa Morte. Medo. Gênero. Candomblé. Identidade.

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Publicado

2012-11-14

Como Citar

Santos, J. (2012). Corpo e religião: Notas tanatológica sobre a Irmandade da Boa Morte. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/386

Edição

Seção

2012 GT 12: Corpo, Cultura e Religião – Coord. Roberto Motta, Amurabi Oliveira