Pelos (des) caminhos do contato: hibridismo religioso no aldeamento de Boa Vista – Paraíba setecentista
Resumo
Em carta ao rei de Portugal, datada de julho de 1740, o então capitão-mor da Paraíba, Pedro Monteiro de Macedo menciona o mau proceder de missionários que atuavam em Mamanguape – região litorânea da capitania – onde se localizavam aldeamentos de indígenas provenientes do sertão da Paraíba. Entre estes, indivíduos Canindé e Xucuru que, sob os cuidados de missionários carmelitas descalços, no aldeamento de Boa Vista, continuavam a praticar o ritual da Jurema Sagrada (baseado no consumo de uma bebida enteógena derivada das raízes da acácia jurema, ingerida acompanhada do fumo das cascas da mesma planta), considerado diabólico pelas autoridades que investigaram o caso, sendo as mesmas lideradas pelo então Bispo de Pernambuco, Frei Luís de Santa Teresa, com o apoio do governador de Pernambuco, Henrique Luís Pereira Freire. Esta pesquisa visa entender como se processou o contato entre os missionários carmelitas e os grupos por eles mantidos aldeados, no sentido em que aqueles passaram a fazer uso, segundo Pedro Monteiro, das práticas que deveriam, de acordo com a proposta política e religiosa da colonização lusa, combater. Para tal investigação, utilizamos como fontes documentos do Arquivo Histórico Ultramarino, digitalizados pelo Projeto Resgate Barão do Rio Branco. A pesquisa enceta um diálogo com a Antropologia e se desenvolve a partir da perspectiva da Micro-História pautando-se junto ao conceito de circularidade cultural.