A FÉ QUE ENCANTA ATRAVÉS DO CANTO E DANÇA NO CONGADO DE OURO PRETO
Resumo
A presente pesquisa, após estudar a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos em Ouro Preto, no século XVIII, pondera a respeito das atividades religiosas e sociais dos Congadeiros atuais, na mesma cidade, que através da fé mantém vivo o Congado em homenagem a santa. A partir da observação de uma construção cultural de base sincrética estabelecida no Brasil, analisa-se, na contemporaneidade, o Congado como uma manifestação cultural e religiosa, em que estão presentes elementos do catolicismo popular mesclado à herança da cultura africana trazida do além-mar que, em determinados aspectos, mantiveram seus sentidos, enquanto outros foram ressignificados. O estudo busca compreender a experiência religiosa negra na Minas da escravidão e seus reflexos na atualidade. No espaço da Irmandade foi possível aos confrades negros inserir elementos da cultura africana com o objetivo de homenagear a Santa do Rosário. Com relação à Festa do Rosário, percebe-se que ela se edificou num universo imagético extremamente rico, uma vez que é marcada por momentos festivos e devocionais que se materializam em diferentes tipos de representações que se reconstroem alicerçados numa ludicidade que procura trazer à tona o passado, presentificá-lo e atualizá-lo, construindo um sentido que perpassa a expressividade visual, já que é uma tentativa de manter viva uma tradição secular e, por isso, expressar a identidade. A Congada está inserida dentro de um ambiente sagrado, em que há uma narrativa falada ou cantada que é expressão do próprio devoto em ação e, simultaneamente, formaliza um convite aos ouvintes para se integrarem ao enredo. Ao analisar as artes sacras de origem negra, chama atenção para o fato de haver, na atualidade, muitas vozes e lugares em que são equacionados os encontros e as relações da elite branca com as artes sagradas de matriz africana, cuja preservação foi realizada pelos negros no período escravista e posteriormente.