Padres, policiais e grileiros: envolvimento dos clérigos católicos nos problemas de violência no campo no Maranhão durante a ditadura militar
Resumo
Com golpe civil-militar de 1964 foi instaurada, no Brasil, um regime ditatorial que duraria 21 anos. A ditadura militar se mostrou violenta desde seus primeiros momentos e sua legitimação foi feita através de leis, decretos e atos institucionais, que mostravam que o uso da força seria utilizado para combater os chamados "inimigos da Nação". Nesse contexto esta comunicação tem como base os relatórios dos agentes de informação da Delegacia de Ordem Política e Social do Maranhão (DOPS/MA), que possibilitou visualizar a ampla utilização de meios violentos pelo Estado ao lidar com as questões políticas e sociais. Os problemas fundiários no Maranhão na década de 1970 tornam-se assim um cenário privilegiado para abordar o problema da violência estatal. Os projetos de desenvolvimento econômico e a atuação da Companhia Maranhense de Colonização (COMARCO), responsável pela venda de terras da união, agravou a prática da grilagem tendo prejudicado grande quantidade de lavradores. Além das expulsões, ameaças e assassinatos praticados por jagunços e pistoleiros, em diversas situações pequenos produtores foram presos, desapropriados ou sofreram violências por parte da polícia, que chegava a utilizar acusações de subversão como justificativa para as suas operações. Nesse momento de liberdade vigiada, muitos padres, freiras e leigos foram responsáveis não só por denunciar, mas por estar à frente dos processos de resistência e articulação política dos lavradores. Neste trabalho pretendo abordar este cenário em que o Estado é promotor de uma violência institucionalizada através da força policial e também negligente com as diversas situações de violência vividas pelos pequenos produtores. Por fim pretendo analisar a ação dos clérigos católicos, por meio de seus discursos em defesa dos direitos humanos traduzidos em acesso a terra, moradia, alimentação e melhores condições de vida.