A pajelança Maranhense no final do século XIX: controle social e disputa pelo monopólio das práticas terapêuticas.
Resumo
A pajelança maranhense é uma manifestação religiosa voltada para o tratamento de doenças físicas e espirituais que engloba elementos do catolicismo popular, tambor de mina e das culturas indígenas. Sua origem é atribuída aos rituais xamânicos dos índios tupinambás, mas as fontes históricas indicam para a expansão dessa experiência religiosa pela população afrodescendente que teria assimilado os elementos religiosos indígenas (EDUARDO, 1948; LEACOCK, 1975). Segundo Laveleye (2008) não é possível falar em apenas uma pajelança, pois a difusão de práticas terapêuticas que incluem a ação de entidades religiosas é tão variada quanto os locais em que são registradas. Pensando nessa afirmação a proposta inicial dessa comunicação é pensar a pajelança maranhense a partir de sua singularidade nas implicações que dela decorrem. No final do século XIX a pajelança passou a ser sistematicamente perseguida pela polícia por figurar entre os crimes contra a saúde pública e os jornais registravam o cotidiano de perseguição ao que era considerado como um problema social à época. Sua difusão não decorria unicamente da defasagem do sistema médico-científico, mas da crença construída social e culturalmente no poder dos pajés (LÉVI-STRAUSS, 2012; BOLTANSKI, 2004) levando os pajés a se destacarem no cenário urbano. A perseguição por sua vez não era uma novidade criada partir das legislações republicanas sendo muito mais ressignificações de uma gama de tensões sociais registradas ao longo do tempo. O presente trabalho pretende também abordar os rituais de pajelança a partir dos jornais da cidade de São Luís na virada do século XIX para o século XX buscando compreender a tensão entre os agentes das instituições de controle social e os pajés em um contexto que denomino de disputa pelo monopólio da cura.