A ORTODOXIA COMO FUNDAMENTO DA ORDEM POLÍTICA BIZANTINA E ELEMENTO DE LEGITIMAÇÀO PARA A REPRESSÃO DA OPOSIÇÃO POLÍTICA: O CASO DE ALEIXO I COMNENO (1081-1118)
Resumo
Após o fim das perseguições aos cristãos e com o aberto favorecimento ao Cristianismo dado por Constantino I (324-337), a Igreja ficou cada vez mais sob a proteção dos imperadores romanos e bizantinos. Ela passou a construir discursos legitimadores para o poder imperial. Isso resultou numa construção de mundo bem particular: os bizantinos passaram a defender a existência de uma ordem criada por Deus (τ?ξεις), cujo representante era o imperador, pois ele havia sido empossado com o Império (βασιλε?α) fundado por Augusto e cristianizado por Constantino I. Apresentando-se, por conseguinte, como defensores dessa Ordem Divina, os imperadores tomaram para si o papel de tutores morais da sociedade bizantina e passaram a combater desvios teológicos. Vemos então que esse papel foi abertamente instrumentalizado pelos imperadores para reprimir grupos oposicionistas ou de resistência ao governo do imperador reinante. Nota-se na análise desses processos que era comum que a repressão de desvios teológicos se misturasse com movimentos oposicionistas de tal modo que não era mais possível diferenciar um do outro. Obvervava-se, igualmente, que resistências por razões religiosas podiam refletir insatisfações políticas dentro da sociedade. Portanto, nesse trabalho será abordado um exemplo desse fenômeno político-religioso: o processo contra o filósofo João Ítalo em 1082 sob a condução do imperador Aleixo I Comneno (1081-1118). Embora Ítalo tenha sido processado nos quadros da Igreja, por clérigos e sob argumentos teológicos, esse evento se desenvolveu dentro de uma conjuntura política e militar bastante tensa: sob invasão normanda, embates internos dentro do grupo político governante e tensões latentes entre o imperador e a elite de Constantinopla.