Sítio Caldeirão: A violência Institucional contra uma comunidade Fraterna (1889-1937). Região do Cariri/Ceará

Autores

  • Benedito Tadeu Santos PUC - SP

Resumo

A irmandade de Santa Cruz do deserto foi uma comunidade liderada pelo Beato José Lourenço, que surgiu em 1926, formada inicialmente por sertanejos nordestinos, devotos do Padre Cícero Romão Batista que, desde 1889, haviam seguido para Juazeiro do Norte em romaria, após o Milagre Eucarístico, protagonizado pela Beata Maria de Araújo.

Ao longo desses 37 anos, retirantes de diversas regiões do Nordeste foram aglutinando-se na região do Cariri, mas esse contingente aumentou significativamente com a chegada gradativa de vitimados pela seca de 1932, a qual maximizou a atávica exploração dos oligarcas rurais, denominados coronéis.

No Sítio Caldeirão, situado no munícipio do Crato, no Estado do Ceará, terras do Padre Cícero, José Lourenço e os membros de sua comunidade, calcados em experiências fraternas herdadas do Padre Ibiapina e práticas religiosas comuns aos sertanejos, organizaram-se a partir dos pilares que lhes garantiam a sobrevivência material e preenchiam suas necessidades espirituais: trabalho, oração e partilha dos bens produzidos. Tal estrutura comunitária foi considerada pelos segmentos dominantes cearenses uma ameaça à ordem social estabelecida.

A Igreja Católica Romana, por meio de sua hierarquia, comprometida com o projeto de romanização e com as oligarquias agrárias, desprezou suas práticas religiosas, considerando-as expressão de fanatismo. A isso se somou uma intensa disseminação de acusações de práticas comunistas e agrupamento periculoso, o que ajudou a formar uma opinião pública favorável à sua repressão.

A campanha militar, formada por policiais civis e militares, do município, do Estado e com a ajuda de forças federais, desencadeada em 11 de setembro de 1936, resultou na dispersão dos membros da comunidade e na desocupação das terras do Caldeirão, tendo como desfecho a campanha ocorrida em maio de 1937, com ataque dessas forças aos remanescentes, que se haviam refugiado na Mata dos Cavalos, na Serra do Araripe.

O extermínio da comunidade do Sítio Caldeirão expressa a violência do Estado para com tais formas organizacionais cujo único pecado foi o de lutar contra a miséria por meio de da solidariedade.

 

Palavra chave: Sertanejo nordestino. Beatos. Religião. Violência Institucional

Biografia do Autor

Benedito Tadeu Santos, PUC - SP

Mestre em História Social - PUC, SP. Bacharel em Teológia, Pontíficia Faculdade de Teologia, Nossa Senhora da Assunção (PUC_SP). Licenciado em História, Centro Univ. Assunção. Áreas de pesquisa: História Social / História da Igreja / Teologia / Espiritualidade.

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Publicado

2015-08-16

Como Citar

Santos, B. T. (2015). Sítio Caldeirão: A violência Institucional contra uma comunidade Fraterna (1889-1937). Região do Cariri/Ceará. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 14. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/916