Na fronteira entre religião e ciência: a meditação na grande imprensa brasileira

Autores

  • Maria Regina Cariello Moraes

Resumo

A meditação é um exercício milenar de contemplação mística, utilizado por religiões orientais e por antigas correntes judaico-cristãs. Com a expansão das espiritualidades asiáticas para o Ocidente, por influência dos movimentos de contracultura, práticas contemplativas budistas e hinduístas transformaram-se em atividades para melhorar a saúde e obter bem-estar. No Brasil, os meios de comunicação tiveram importante papel na extensa publicidade da meditação, ocorrida na última década, bombardeando o público com explicações neurocientíficas sobre seus efeitos. Até o final do século passado, meditação e ioga pouco compareciam na grande imprensa. Nessas ocasiões, destacavam-se o exotismo, a relação com as espiritualidades asiáticas e a herança hippie, muitas vezes de maneira pejorativa. A ampliação da divulgação, nos anos 2000, foi acompanhada por uma modificação na representação da meditação, deslocando-a do âmbito religioso para o âmbito medicinal. Devido às novas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), apoiadas em pesquisas, a meditação passava a ser recomendada como prática de saúde e utilizada nos mais diferentes lugares e situações, de hospitais a empresas. O objetivo deste texto é analisar narrativas acerca da meditação publicadas nas principais revistas brasileiras e discutir contradições e continuidades entre as visões científicas e religiosas, presentes nesse tipo de noticiário. O processo de construção de uma nova imagem para a meditação nas mídias denota, por um lado, a força adquirida pelas neurociências para explicar todos os comportamentos, inclusive os religiosos. Por outro lado, nas reportagens ainda podem ser encontrados elementos simbólicos e doutrinários das religiosidades do Extremo-Oriente, bem como aconselhamentos de monges e sacerdotes que ensinam a prática para médicos e leigos. Além disso, muitas das pesquisas comprobatórias da eficácia da meditação, comumente noticiadas, foram realizadas por cientistas simpatizantes dessas religiosidades, algumas com incentivo financeiro de líderes espirituais ou seguidores. Desse modo, parece haver também interesses religiosos no reconhecimento da meditação como técnica científica, que, ambiguamente, podem acentuar a recente tendência para a biologização do espírito, suscitada pelo desenvolvimento das neurociências.

Biografia do Autor

Maria Regina Cariello Moraes

Doutora em Sociologia - Universidade de São Paulo

Pesquisadora do Núcleo Corpo e Sociedade da UNESP - Rio Claro.

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Publicado

2015-08-16

Como Citar

Moraes, M. R. C. (2015). Na fronteira entre religião e ciência: a meditação na grande imprensa brasileira. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 14. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/914

Edição

Seção

2015 GT 41: Religião e ciência, tensão, diálogo e experimentações