A revolução, o clérigo e o cirurgião: Aspectos históricos e sociais da transsexualidade no Islã e no Irã
Resumo
A Revolução Islâmica de 1979 representou uma mudança drástica no governo e na história iranianos. A recém-criada República Islâmica trouxe à esfera pública uma discussão sobre a islamização do Estado e das instituições. Essa nova forma de governo e sua relação com a sociedade orientaram a forma como as leis gradualmente se orientaram em direção aos costumes religiosos. Não seria diferente com as políticas de saúde pública. A lei islâmica é possuidora de fortes categorias de gênero, explicadas e analisadas por textos clericais (fatwas), assim como de determinações culturais de papeis de gênero atuantes em várias sociedades. O Imam Khomeini, líder político e religioso da Revolução Iraniana, nos anos 1980 emitiu uma fatwa na qual a transexualidade se tornava aceitável pela lei iraniana e, portanto, pessoas que não se sentiam adequadas ao gênero atribuído ao nascimento poderiam doutores e terapeutas para modificar sua identidade social. Diferentes aspectos da história do tratamento público de transexuais no Irã, como os constrangimentos sociais, o medo do julgamento e da violência; as justificativas para a permissão, cidadania trans e problemas políticos, a partir da República Islâmica e da teologia xiita serão analisados por este trabalho. Utilizando-se de documentos religiosos, relatos e entrevistas, análises historiográficas e sociológicas, o trabalho busca entender o processo histórico da relação entre a República Islâmica, o xiismo duodecimano e a legalidade da transexualidade no Irã, bem como compreender o processo de mudança de sexo sentido no mundo social, apresentando a questão do gênero no Islã. Assim, a exposição serve de maneira a compreender o estigma e como as categorias culturais estruturais afetam a vida quotidiana daqueles que se submetem a tal processo.
Palavras-chave: Identidades trans, direitos de minorias, sexualidade no Islã.