As hagiografias como fontes históricas: uma leitura de Michel de Certeau

Autores

  • Dirceu Rodrigues da Silva Unesp-Assis

Resumo

Durante os anos do século XX ocorreram transformações nas formas de se pensar a história. Entre elas estava a expansão das fontes para os historiadores. As hagiografias passaram a ser uma importante fonte para o historiador que buscava entender a identidade do sagrado que determinado grupo produziu em seu lugar histórico.

Este trabalho busca discutir as possibilidades e limites da utilização das hagiografias como fontes históricas, tendo em vista, principalmente, os escritos de Michel de Certeau. Esse autor que no final da década de 60 direcionou suas obras ao questionamento do trabalho historiográfico, sobretudo, aos setores acadêmicos que pregavam uma história isenta da interferência de quem produziu, utilizou-se em vários momentos dos escritos religiosos para apontar novos problemas ao trabalho do historiador. Para o jesuíta, a disciplina História que questionava os escritos religiosos como repletos de intenções não poderia mais fugir desse mesmo questionamento.

 As hagiografias aparecem nos escritos do Certeau como um gênero literário católico que parte da existência de um santo para a prática da escrita, manuseando os fatos da vida do personagem com o objetivo de demonstrá-la santa. Essas fontes históricas são discutidas no capítulo “Uma Variante: A Edificação Hagio-Gráfica” em um dos seus principais livros, A Escrita da História, de 1975. Nesse capítulo, o autor discuti a oposição existente entre a vida do(a) santo(a) e a sua hagiografia. A intenção não é desqualificá-la, mas demonstrar que a vida do(a) santo(a) será sempre escrita em defesa de sua santidade, ou seja, seu passado será escrito pelo filtro do presente que se escreve. A partir do momento que o personagem é considerado santo, a leitura de suas memórias é redefinida para fazer jus ao seu futuro.

O pensador vai apontar para a dificuldade de se obter explicações extras discursivas, ou seja, a dificuldade em encontrar os “silêncios” que os textos carregam sem fazer deles uma de prova científica para pressupostos históricos. Esses questionamentos metodológicos feitos por Certeau podem dialogar com diversos documentos religiosos, entretanto, nosso objetivo é buscar entender em que medida seus escritos auxiliam os trabalhos com as fontes hagiográficas.

            Nosso trabalho é uma leitura das obras de Michel de Certeau buscando principiar uma discussão acerca das hagiografias como fontes para a história das religiões. Entendemos esse esforço importante para os estudos das religiões no Brasil, pois, além de trabalhar um autor de difícil leitura, também procuraremos evidenciar as hagiografias como importantes fontes para os historiadores.

Biografia do Autor

Dirceu Rodrigues da Silva, Unesp-Assis

Mestrando no Programa de Pós-graduação em História- UNESP. Assis, SP.

Bolsista UNESP/CAPES

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Publicado

2015-08-16

Como Citar

Rodrigues da Silva, D. (2015). As hagiografias como fontes históricas: uma leitura de Michel de Certeau. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 14. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/878

Edição

Seção

2015 GT 08: Historiografia contemporânea e história das religiões: fronteiras