Paralelos entre formas de governo na Filosofia Política e tradições religiosas cristãs
Resumo
As formas de governo clássicas – monarquia, aristocracia e democracia – apresentam paralelismos no campo religioso, haja vista a maneira como as instituições têm organizado suas redes de exercício do poder. Buscam-se, nesta pesquisa, a gênese e fonte de legitimação desse poder, nas escrituras sagradas judaico-cristãs e no pensamento filosófico sociológico ocidental. Constata-se que as modalidades de governo mencionadas têm relação com ideias de soberania absoluta, poder compartilhado e queda do homem, sendo esta devida ao “pecado original”, o que veio ensejar experimentos de autonomia, ou seja, democracia, após essa queda, no caso da tradição judaico-cristã. A discussão da origem e legitimação ou não legitimidade do binômio dominação-obediência é feita com alusões à “servidão voluntária” em La Boétie, aos princípios ou “molas” do poder em Montesquieu e às formas de dominação em Weber. Verifica-se que é possível traçar um paralelo entre o teológico e o sociológico, visto que o poder se efetiva, nas tradições religiosas, com tentativas de legitimação e justificativa recorrentes entre o sagrado e o secular. O texto discorre sobre figuras do poder transcendente e suas equivalências na sociedade. Os modelos de governo episcopal, presbiteral e congregacional são analisados, como exemplos paralelos a monarquia, aristocracia e democracia. A experiência brasileira entre o episcopalismo medieval da igreja católica e o episcopalismo empresarial das igrejas neopentecostais, entre o congregacionalismo importado das igrejas evangélicas e o coronelismo dos pentecostais, é examinada. Finalmente, são apresentadas implicações sobre essas diferentes formas de exercício de poder em algumas tradições religiosas e possíveis consequências para a vida social e para a formação da cidadania.
Palavras-chave: governo, poder, legitimidade, obediência, tradições judaico-cristãs.