As águas de Nazaré: análise psico-antropológica da simbologia afro-religiosa presente na festa de Nossa Senhora de Nazaré em Belém do Pará.
Resumo
Este artigo consiste em uma análise psico-antropológica da simbologia afro-religiosa presente na festa do Círio de Nazaré em Belém do Pará. A intenção é apresentar uma breve etnografia da festa e proceder com uma análise psico-antropológica dos elementos afro-religiosos historicamente a ela incorporados. O ponto de partida desta análise é a vivência do Círio durante algumas décadas, por parte de uma das autoras, e uma incursão nas comemorações da 222ª versão do Círio, realizada no ano de 2014. Tal incursão nos rendeu um conjunto de observações e uma vivência capazes de subsidiarem o esboço de um breve ensaio sobre o encontro de diferentes tradições religiosas durante a festa daquela que é conhecida como “a Rainha da Amazônia”. A interlocução com um grupo de pessoas pertencentes a três gerações do Círio reforça os resultados da observação in loco ao mesmo tempo que fornece elementos para uma análise psicanalítica de alguns dos símbolos mais proeminentes do Círio, como é o caso da água, da corda e do êxtase. À análise sócio-antropológica da festa soma-se uma análise psicanalítica de outros elementos, como o culto ao feminino, a comensalidade e a interação-sociabilidade, presentes nas comemorações. Numa análise criteriosa do Círio é possível ainda perceber elementos muito comuns às religiões afrobrasileiras, como é o caso do sacrifício de animais, a sincretização religiosa entre Nossa Senhora de Nazaré e Oxum e a extrapolação do sagrado, facilmente percebida na dimensão lúdico-profana do Círio, cujas expressões máximas são o Arrastão do Pavulagem, o Auto do Círio e o “Baile da Chiquita”.