CAMPO RELIGIOSO BRASILEIRO PRISIONAL: O LUGAR DAS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS NO CONTEXTO DE ENCARCERAMENTO

Resumo

As nuances do campo religioso brasileiro, um dos grandes temas das Ciências Sociais da Religião, que envolve sincretismo e porosidade, competições e guerras santas, trânsitos e empréstimos, já estão bem delineadas enquanto arcabouço teórico. Lado outro, é apenas a partir da década de 1990, salvo raras exceções, que despontam os estudos sobre a religião e o sistema prisional. Aliás, é o fenômeno da prisionalização – aprendizado da cultura carcerária, que em muito difere da extra muros –, que nos apresenta o sistema prisional como um espaço no qual vigoram normas e valores específicos, com regras próprias. E essa especificidade reflete também nas possibilidades de presença da religião, posto que embora o catolicismo ainda seja majoritário no país, bem como tenha havido relativo aumento de espíritas e outras religiosidades, notamos uma efervescência na atuação de religiosos evangélicos nos cárceres; na verdade, na maioria deles encontramos apenas católicos e evangélicos atuando, mas com a polarização invertida em relação à sociedade fora da prisão. Nesse sentido, entendemos que é preciso verificar se o arcabouço teórico ordinário pode ser aplicado, ipisis literis, ao ambiente do encarceramento. Assim, nosso recorte se dá a partir de uma breve inserção na bibliografia existente e busca levantar hipóteses que destoem de uma interpretação simplista, como a que quer identificar os evangélicos como proselitistas e meros propagadores da fé, os católicos como pouco atuantes em razão de serem tradicionais no país e os espíritas como sofredores de preconceito. E essa presença institucional é apenas um traço daquilo que nominamos de campo religioso brasileiro prisional.