“El Enemigo Malo” O Diabo e o discurso de enquadramento social da Igreja castelhana do século XIII
Resumo
Esta apresentação trata-se de um recorte de minha pesquisa de mestrado desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em História Comparada e do Programa de Estudos Medievais, ambos da UFRJ, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Andréia Frazão. Nesta pesquisa, o objetivo principal é compreender em perspectiva comparada como as representações do Diabo, presentes nos Milagros de Nuestra Señora, de Gonzalo de Berceo, e no Liber Mariae, de Juan Gil de Zamora, foram usadas como discurso de enquadramento social pela Igreja medieval castelhana do século XIII. Para tal análise, uso como referenciais teórico-metodológicos o conceito de representação de Roger Chartier e a metodologia de História Cruzada, proposta por Michael Werner e Bénédicte Zimmermann. Para que se possa entender de que maneira os textos se relacionam com o discurso de enquadramento social da Igreja castelhana do período, discutirei como a narrativa tradicional se atualiza e se articula com as Atas Conciliares do Concílio de Latrão IV e de Valladolid, realizados respectivamente em 1215 e 1228.
Neste trabalho, analisarei a narrativa conhecida como El sacristán fornicario, integrante da hagiografia intitulada Milagros de Nuestra Señora, escrita em 1253, em La Rioja, reino de Castela. O autor deste texto, o riojano Gonzalo de Berceo, foi um padre que cursou os Estudios Generales da Universidade de Palência e manteve ligações com as casas monásticas de San Millán de La Cogolla e de San Domingo de Silos. No milagre selecionado, o autor conta a sua versão da história de um monge beneditino sacristão que à noite fugia do mosteiro para ter relações sexuais, acabando por morrer em estado de pecado. Contudo, como era muito devoto da Virgem Maria, é salvo.