Religiosidade e bud?: notas sobre manifestações no campo das lutas japonesas
Resumo
As práticas de lutas são uma das manifestações culturais mais antigas do mundo que surgiram principalmente em situações de garantia da sobrevivência possuindo como principal característica a organização e sistematização de um conjunto técnico voltado para a autodefesa, muitas vezes com o uso de objetos. Posteriormente, com o desenvolvimento das lutas marciais nas sociedades do extremo oriente, vê-se que elas serão aliadas a um conjunto de práticas filosóficas sofrendo forte influência da religião que sustentava desde a moralidade e as leis até a estratificação e a hierarquia social. Com isso, a própria prática marcial assumirá o sentido de formação integral do sujeito e busca do autoconhecimento. O presente trabalho aborda alguns elementos presentes no universo do Bud? japonês que tiveram influência da religiosidade e espiritualidade local. No campo das práticas das lutas são encontrados diversos elementos intrínsecos e extrínsecos que simbolizam esta relação, dos quais nos focamos: 1) no local de treinamentos e estudos - doj? - entendendo como um espaço que tem origem nas salas de meditação dos templos budistas e que se tornou essencial e preciso para a prática destas atividades. Sua arquitetura e design mantêm referências à religiosidade japonesa e até mesmo reproduz numa menor instância a cosmovisão presente no budismo e shintoísmo, as duas principais manifestações religiosas do país; 2) nos princípios, mandamentos e lemas - doj? kun - de alguns sistemas de lutas como o jud?, karate-d?, aikid?, que se inspiram em preceitos destas religiões e no próprio código ético-moral - Bushid? - do samurai e; 3) na carta régia contemporânea das lutas japonesas, o Bud? Kensh?, estabelecida a partir da associação de algumas escolas e agremiações de artes marciais no ano de 1987. Este trabalho é um recorte da pesquisa de mestrado que teve como objetivo analisar o desenvolvimento sociocultural e histórico das lutas japonesas. Como referencial teórico escolheu-se o modelo da sociologia compreensiva weberiana e sua contribuição para a análise do fenômeno religioso acrescentando-se a teoria psicossocial do sociólogo alemão Erich Fromm que percebe o caráter autoritário do Estado e das instituições sociais (como a religião) atuando na formação da personalidade dos sujeitos. Também se recorreu à análise das religiões japonesas na obra de Yusa (2002) e Nukariya (2006). Como procedimento para o presente artigo adotou-se a análise dos escritos dos fundadores dos principais estilos de lutas e dos princípios elaborados e a técnica de análise de imagens paradas-fotográficas (BAUER; GASKELL, 2002).