Museu ao Céu Aberto: Estudo das Expressões Religiosas, Sociais e Culturais na Arte Tumular nos Cemitérios do RS

Autores

  • Thiago Nicolau de Araújo Faculdades EST

Resumo

Percebemos diferentes maneiras das sociedades expressarem o sentimento sobre a morte, mas sempre mantendo a ideia de conservar a memória do morto pela imagem, numa tentativa de manter viva sua identidade. Para o cristão, a fé na vida eterna representa um elo entre o mundo dos vivos (profano) e o mundo dos mortos (sagrado). Daí surge à necessidade de conservar a memória do morto, criando uma relação permanente entre o mundo profano e o mundo sagrado, assim como forma de negar o fim da existência do ser. A preservação da memória é relacionada como uma manifestação da chamada “cegueira da morte” nas palavras de Edgar Morin: “Fazemos de conta que a morte não existe, pois a vida cotidiana é pouco marcada pela morte” (Morin, 1997, p.63). Nesse sentido, a arte tumular reflete a negação da morte como fim. A ideia da morte não é nada mais do que a ideia da perda da individualidade, e o complexo de perda dessa individualidade é traumático, visto que a morte destrói a consciência do ser. Daí o homem forjar o mito da imortalidade, que nada mais é do que a firmação da individualidade além da morte. A afirmação incondicional do indivíduo é uma realidade humana primordial.

Assim, analisamos as construções tumulares dentro dos cemitérios públicos e privados por meio da preocupação de preservar a memória através de obras de renomados artistas plásticos, túmulos de personalidades de relevância, textos e outros traços que contam a história das pessoas ali enterradas, tornando o espaço um museu ao céu aberto. Dessa forma, o túmulo é uma representação de uma identidade cultural individual ou coletiva, inserida num modelo de discurso urbano. Nesse sentido, a espécie humana é a única para a qual a morte está presente ao longo da vida, a única a acompanhar a morte com um ritual funerário, a única a crer na sobrevivência ou no renascimento dos mortos. Assim, a morte introduz entre o homem e o animal uma ruptura mais espantosa ainda do que a ferramenta, o cérebro, a linguagem. A recusa da morte caracteriza o homem, que, assim, cria os mitos da ressurreição e da imortalidade. Assim, é na diversidade de adereços que compões a arte funerária que se torna possível identificar as concepções religiosas presentes em um campo santo e sua relação com a finitude. Analisamos as obras funerárias como uma forma de narrativa, pois quando uma família escolhe uma estátua de Cristo, de algum santo e insere outros elementos da fé cristã, está reafirmando sua crença religiosa ou da comunidade em que vive. 

Biografia do Autor

Thiago Nicolau de Araújo, Faculdades EST

Licenciado e Bacharel em História pela PUCRS. MEstre em História das Sociedades Ibero-americanas pela PUCRS. Doutorando em Teologia e História. Bolsista CNPq. Professor de Pós-Graduação nas áreas de História e Educação.

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Publicado

2012-11-20

Como Citar

de Araújo, T. N. (2012). Museu ao Céu Aberto: Estudo das Expressões Religiosas, Sociais e Culturais na Arte Tumular nos Cemitérios do RS. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/611

Edição

Seção

2012 GT 16: Religiões, Museus e Patrimônio Cultural – Coords. Emanuela Sousa Ribeiro, Luiz Carlos Luz Marques