Corpo e Religião: os praticantes de taiji quan em Montes Claros
Resumo
O taoísmo, religião chinesa por excelência, influênciou de diversas maneiras a cultura e imaginário da China. Em se tratando de corporalidade, objeto do nosso estudo, a cosmovisão taoísta serviu de fundamento para diversas artes marciais chinesas. Um exemplo dessas práticas é o taiji quan (tai chi chuan), atualmente difundido em todo o mundo, chegando também a cidade de Montes Claros, no norte de Minas Gerais. A presente pesquisa etnografou um grupo de praticantes de taiji quan em Montes Claros, com o objetivo de investigar as reações destes praticantes ao conteúdo semântico de origem taoísta presente na prática. Um ponto central em nosso debate está no fato de que o conteúdo de corte religioso dessa prática é transmitido corporalmente, já que no caso montesclarense, comentários teóricos são evitados dentro dos treinos. Percebemos que isso se dá devido a falta de interesse dos praticantes ou a uma rejeição de caráter religioso (por parte dos cristãos). Assim, o encontro entre a religiosidade de cada praticante com a cosmovisão taoísta ocorre por meio da corporalidade, o que provoca diferentes reações em cada um desses interlocutores. Para realizar o presente trabalho buscamos fundamentação em Marcel Mauss (2003), José Bizerril (2007) e Gilbert Durand (2000), que discutem respectivamente técnicas corporais, a corporalidade taoísta e o imaginário. Articulamos as perspectivas dos teóricos acima com os dados da nossa etnografia, o que tornou possível realizarmos uma hermenêutica das técnicas corporais.