A virada litúrgica do Vaticano II: mutação conceitual e práxis institucional

Autores

  • Luiz Antônio Reis Costa

Resumo

O Vaticano II promoveu a maior reforma litúrgica conhecida na história da Igreja Católica. Mais do que uma simples mudança ou atualização de ritos a liturgia, renovada pelo Vaticano II, manifestou uma nova compreensão da Igreja acerca de si mesma e de suas relações com o mundo moderno.
Analisar a mudança do conceito de liturgia operado pelo Vaticano II e suas implicações na autocompreensão do corpo eclesial e nas relações de poder dentro da própria Igreja é o objetivo dessa comunicação.
O conceito de liturgia vigente no período pré-conciliar possuía clara vinculação com a matriz teológica e disciplinar emanada pelo Concílio de Trento. Liturgia era tida como o culto público e oficial que a Igreja presta a Deus, mediante um conjunto de ritos aprovados pela devida autoridade eclesiástica, presididos pelo clero e regulados por uma rígida legislação. 
Por sua vez, o conceito projetado pelo Vaticano II busca uma matriz mais profunda, vinculada à grande Tradição bíblica e patrística . Nele a liturgia é compreendida como a ação sacerdotal de todo o Povo de Deus, isto é, de todos os membros da Igreja.
Com isto privilegia-se não só a figura do clérigo celebrante, mas toda a comunidade é reconhecida como celebrante, recuperando-se dessa forma a experiência primitiva da comunidade cristã. Abre-se espaço para o verdadeiro empoderamento dos leigos que passam a assumir ministérios e funções litúrgicas até então de exclusiva atuação do clero.
Todavia esta mudança, verdadeiro giro copernicano no paradigma da liturgia católica vigente desde o Concílio de Trento (1545-1563), não se fez sem conflitos, resistências e perdas.
Neste cinquentenário do Vaticano II assiste-se a um novo debate sobre a liturgia. De um lado os defensores do legado conciliar, dividos numa gama variada de compreensões e práticas e de outro lado a emergência de movimentos e grupos neo-conservadores e neo-tradicioanalistas, empenhados na restauração da disciplina anterior ao Vaticano II.
Por trás de cada conceito de liturgia há uma compreensão de Igreja e de sua missão no mundo, bem como uma compreensão de sacerdócio, laicato e relações com o ambiente secular. A análise do conceito de liturgia e suas mutações é campo fecundo para a compreensão da Igreja em cada momento histórico. A liturgia é epifania da Igreja, ou seja, de alguma forma a celebração do culto sempre revelará aquilo que a Igreja vive naquele período. O momento atual é marcado por tensões que atravessam a Igreja, sobretudo no que se refere à hermenêutica do Vaticano II e sua recepção concreta no cotidiano da Igreja. A liturgia, de diversas formas, manifesta esse contexto e oferece abundante campo para a investigação acadêmica.

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Publicado

2012-11-16

Como Citar

Costa, L. A. R. (2012). A virada litúrgica do Vaticano II: mutação conceitual e práxis institucional. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/573

Edição

Seção

2012 GT 24: Cinquenta anos de Vaticano II: história, memória e perspectivas – Coords. Sérgio C. Santos, Diego Silveira