Saberes e religiosidades de benzedeiras

Autores

  • Lidiane da Cunha

Resumo

Esta pesquisa parte do saber construído por mulheres que lidam cotidianamente com a arte de rezar e benzer. A construção desse saber leva em conta as experiências e vivências ao longo de suas vidas até a presente maturidade. Assim, buscamos reconstruir a partir da memória social, os saberes apreendidos cotidianamente formando o que Anthony Giddens chama de guardiões, presentes na condição de duas mulheres: uma benzedeira católica e uma mestra juremeira. Sabendo que na memória familiar estão contidas a memória social e do grupo (Eclea Bosi), buscamos também analisar os instantes de transferência desses saberes tradicionais, considerando que esse aprendizado está intimamente ligado aos fazeres cotidianos a partir dos quais é construída a autoridade destas. Assim, exercitando a metodologia de “escutadores infinitos”, esperamos compreender a partir da memória destas mulheres como as mesmas construíram esse saber a partir da vivência de sua religiosidade.
Diante de uma multiplicidade de significações simbólicas presentes na cultura popular, destacam-se no universo feminino, figuras que são frutos da hibridação cultural brasileira: as rezadeiras, as benzedeiras e as curandeiras. Mesmo que possam ser diferentes, todas partilham da figura arquetípica da mãe e do dom de cuidar. Donas de um conhecimento simbólico, mítico e mágico, elas habitam e participam uma socialidade, simultaneamente, real e imaginária. Isso se afirma na medida em que são procuradas pelos membros de sua comunidade para prestarem seus serviços, apesar do eclipse existente sobre seus conhecimentos 
Por meio da palavra ou por meio da memória destas guardiãs, esses saberes foram adquiridos, transmitidos e reconstruídos. Isto porque, a transformação do dom em palavra e, por sua vez, em cura, não muito diferente de outras práticas como cordel e repente, materializam-se a partir do momento em que são pronunciados. Assim, o instante “é o verbo que se faz na boca do poeta; é a palavra que se pronuncia a si mesma para se fazer comunicante por meio de quem fala e ouve. É tão surpreendente que o próprio poeta, geralmente, se encanta com o que ele mesmo diz improvisadamente. A alegria de ser surpreendido pela própria palavra que é falada (SIQUEIRA: 2010). O objetivo é alcançarmos essa fonte de saber que, uma vez pronunciado, passa a depender da memória do entorno para existir, mas que desprezados pelos dados oficiais vem se extinguindo em nosso tempo, ao passo que enriquecem a fonte que nunca seca: a memória.

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Publicado

2012-11-15

Como Citar

da Cunha, L. (2012). Saberes e religiosidades de benzedeiras. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/565

Edição

Seção

2012 GT 14: Patrimônio Cultural e Experiências Religiosas – Coord. Áurea da Paz Pinheiro, Estélio Gomberg