Militância de clérigos e ação altruísta no Maranhão (1950-1980)

Resumo

O objetivo do presente trabalho é explorar os efeitos das intersecções entre a esfera religiosa e a política, com base no exame dos condicionantes e lógicas que estiveram na base do engajamento diferenciado de clérigos, no contexto de uma dinâmica social e política representada pelo Maranhão, entre as décadas de 1950-1980. Parte de uma pesquisa de doutorado ainda em curso (NERIS, 2011). O interesse recai aqui sobre uma nova geração de padres que, na conjuntura nacional e latino-americana de instabilidade política que caracterizou o recorte em pauta, se distinguiram pela intervenção e militância em diversas esferas sociais em defesa dos interesses dos outros: movimentos populares, instituições de filantropia, defesa de direitos humanos, conflitos no campo (CPT), Saúde da Periferia (ASP), sindicatos, etc. Tomando a militância como um processo que envolve questões como a predisposição ao ativismo, os contextos relacionais que favorecem a passagem à ação e as intencionalidades e formas variáveis adquiridas pelo engajamento ao longo do tempo, procuramos compreender quem são esses militantes, as razões que os conduziram a defenderem os interesses dos outros e as próprias particulares desse tipo de engajamento altruísta. De fato, embora se trate de agentes que pertencem a um mesmo domínio confessional e que partilham uma mesma identidade, a análise dos determinantes sociais do engajamento tem indicado que o ativismo clerical não tem nem as mesmas motivações, nem as mesmas retribuições simbólicas. Mais do que isso, porém, se recorremos aqui a casos de religiosos que investiram em movimentos, organizações leigas e formas diversas de mobilização coletiva, é tanto porque acreditamos que esse objeto permite discutir de frente a questão do cruzamento de lógicas, dos usos sociais e políticos da religião e do lugar do religioso no espaço simbólico, quanto permite avançar na compreensão daquilo que essas militâncias fazem aos agentes e ao próprio catolicismo, sobretudo quanto aos seus modelos de excelência, suas hierarquias e divisões internas, suas retribuições materiais e simbólicas e suas capacidades de influência.