Representações da neocristandade no movimento de Restauração Católica no Brasil e em Portugal (1910 – 1937)

Resumo

Em nosso trabalho realizaremos um debate sobre os diálogos entre intelectuais católicos e eclesiásticos no Brasil e em Portugal durante o movimento de Restauração Católica. Em nossa proposta, pretendemos observar os discursos utilizados para a formação de uma neocristandade, tomando como exemplo as ideias destacadas n’A Pastoral Collectiva do Episcopado Português, publicada pelos bispos lusitanos em dezembro de 1910 – e na Carta Pastoral Saudando a sua Archidiocese – divulgada por Dom Sebastião Leme ao assumir a Arquidiocese de Olinda em 1916. Nos dois documentos estão as bases para o desenvolvimento do projeto de politização do clero, tendo entre suas propostas a formação de um conjunto de fiéis comprometidos com o fortalecimento dos ensinamentos católicos.
Durante nossa apresentação, destacaremos as trocas culturais entre os homens das letras e religiosos no mundo luso-brasileiro, observando as semelhanças e especificidades da recatolização em cada país. Neste momento, será importante observar como os discursos recatolizadores no Brasil foram importantes para a formação do projeto de Restauração Católica em Portugal. Para José Mattoso, a parceria entre o poder religioso e o político no Brasil, mesmo após a separação entre Estado e Igreja, foi a principal distinção do movimento de laicização da república portuguesa. As perseguições aos membros do clero, a proibição do uso de símbolos e dos cultos públicos, proporcionaram um movimento de sacralização da política lusitana que enxergava no Brasil um exemplo para a reativação das parcerias entre o político e o eclesiástico .
Para o desenvolvimento de nossas análises, utilizaremos documentos eclesiásticos e periódicos que circularam no mundo luso-brasileiro, como as revistas Atlântida, Brasil-Portugal e Fronteiras, observando as trocas culturais dos letrados e membros do clero dos dois países. Será importante analisar as ortopráticas desenvolvidas no inicio do século XX para a formação da neocristandade e o fortalecimento da sacralização da política.