“Ele tá no couro de santo”: percepções sobre doença e cura num terreiro de Umbanda

Autores

  • Johnatan Marques

Resumo

“Ele tá no couro do santo” foi uma frase que ouvimos da Ialorixá Penha de Iemanjá no momento em que Zinho, um de seus filhos de santo começou a desenvolver uma “perturbação”. Essa “perturbação” de Zinho (uma das formas como foi classificada sua doença) poderia ser enquadrada numa das patologias que a psiquiatria estuda e trata. No entanto, o entendimento sobre a doença, sua classificação e sua forma de tratá-la tinha uma forma peculiar, específica, que dispensaram uma atenção médica a mesma. Entramos em contato com o “couro do santo”, entendido como uma forma do santo “cobrar”: a doença de Zinho estava vindo à tona por intermédio do seu santo, Ogum. Ogum estava lançado no filho um sofrimento físico, cobrando outra obrigação que deveria ser consagrada a ele. As cerimônias de iniciação no orixá são: Bori, Yaô e Deká; tendo em vista o tempo que Zinho tinha se iniciado com um Bori (há dez anos), foi nos dito que já era provável que o padecimento de Zinho viesse por conta da cobrança do seu orixá. Como tratar a doença de Zinho? A Ialorixá Penha nos disse que a doença de Zinho só seria completamente curada se ele desse novamente uma obrigação ao seu orixá. E essa manifestação visível da cobrança do orixá havia acontecido há muitos anos, o que o fez desenvolver a mediunidade e ter realizado a sua primeira obrigação para o seu santo, Ogum. Mesmo assim a Ialorixá Penha resolveu realizar uma cerimônia, como um paliativo, para a doença de Zinho; como uma maneira de aliviar o couro que ele estava levando do seu santo. Esse ritual é chamado de “ritual de sacudimento”, ele é realizado dentro das matas, e como um ritual privado e secreto (com poucos integrantes do terreiro envolvido com a prática) e concebido como um ritual “pesado”, devido a sua alta carga de emotividade e responsabilidade envolvidos no mesmo (por isso também ele é “raro” – talvez como uma forma de preservar a eficácia do tratamento nessa “ritualização da cura”). Nesse trabalho procuramos dar visibilidade a tais práticas e tentar discutir as suas implicâncias na saúde dos envolvidos (embora a doença de Zinho tenha sido “curada”, do ponto de vista do envolvidos no processo, e do próprio Zinho e família). Tentar também demonstrar as peculiaridades das percepções sobre doença e cura, dos praticantes das religiões de matriz afro-brasileira na cidade de João Pessoa – PB.

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Publicado

2012-11-15

Como Citar

Marques, J. (2012). “Ele tá no couro de santo”: percepções sobre doença e cura num terreiro de Umbanda. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/535

Edição

Seção

2012 GT 06: Religiões Afro-Brasileiras e Espiritismos – Coords. Mundicarmo Ferretti, Sergio Ferretti, Raimundo Araújo