De espíritos e encantados: convergências, dinamismo e recriações nos Pajés da Baixada maranhense

Resumo

O “Pajé”, religião de matriz negro-africana praticada extensamente na borda oeste do Estado do Maranhão, apresenta características singulares se comparado ao Tambor de Mina, mais conhecido e praticado na capital, São Luís, e mesmo se comparado a outras religiões afro-brasileiras. Apresentando entidades locais, endógenas, os chamados “caboclos”, o substantivo – Pajé – que nomeia tanto o sujeito praticante quanto a religião por eles praticada, dá a real dimensão ontológica desta realidade e sua fluidez entre o que aparentemente seriam universos distintos. 
Trataremos neste texto da presença dos “espíritos” de cura, que, em conjunto com os encantados - entidades que figuram nos Pajés – vêm à Terra com a clara missão da cura (física/espiritual). Focamos nossa etnografia (ainda inicial) na tenda Espírita de São Sebastião, chefiada pelo Sr Hildo, “herdeiro” espiritual de Zé Lutrido, que, juntamente com Memê, outro famoso curador (também já falecido) de Guimarães, foi “preparado” por Maria Pia no Terreiro do Egito, na capital maranhense.
Assim, neste texto retrataremos as atuações de Margarida, João de Luz, Pingo e outras entidades, rastreando parte de suas biografias e buscando compreender este tipo inovador de “espiritismo” dentro dos Pajés: de que forma podemos pensar numa categorização epistemológica, dada a diversidade ontológica? Como o Kardecismo influiu nestas articulações entre as religiões afro-brasileiras e o catolicismo?
Com resultados ainda preliminares, frutos de etnografias contínuas durante mais de 6 anos nestas casas, buscamos contribuir com o actual debate acerca das religiões afro-americanas como um todo.