A estrela de Davi da Nação Angola: o processo inquisitorial de Mariana Pequena (1713)

Autores

  • Marize Helena

Resumo

Ao pensar as ações inquisitoriais em terras da América Portuguesa voltadas a cripto-judeus recorrentemente remete-se a reinóis e, ou, seus descendentes que nessas terras professaram sua fé. Normalmente imagina-se aqueles enquanto profissionais liberais: médicos, sapateiros, advogados, boticários, etc, mas quase nunca como escravos africanos acusados e presos por judaizar. O trabalho aqui apresentado tem por objetivo refletir sobre a complexidade religiosa na colônia a partir do processo datado de 1713 movido contra a preta Mariana Pequena, natural de Angola e moradora no Rio de Janeiro. Mariana tinha cinqüenta e cinco anos quando em outubro de 1712 foi presa, com seqüestro de bens, e levada ao cárcere em Lisboa acusada de judaísmo. Era forra, vendedora de botões de rendas e havia sido escrava de Simão Rodrigues e, posterior ao falecimento deste, de Diogo Bernal e Maria de Andrade, que, segundo os autos, foram os que a ensinaram a Ley de Moisés e lhe concederam a alforria. Levada a Auto-de-Fé público no Rocio, Mariana abjurou de suas heréticas crenças. Sua vivência, narrada em parte nas acusações e defesas contidas no documento encontrado no Arquivo da Torre do Tombo, indica as inúmeras possibilidades verificadas no cotidiano colonial, especialmente no que diz respeito a relações sócio-religiosas e práticas que escapam aos modelos e lugares cartesianos definidos para os sujeitos históricos daquele período. O ano era 1712 e o recôncavo da Guanabara já se encontrava, em grande medida, povoado por fazendas e engenhos confirmando a importância econômica, política e administrativa local. Vivia-se a primeira década do chamado “século do ouro” e com ela a crescente ação do Santo Ofício no Rio de Janeiro e capitanias vizinhas, especialmente a das Minas Geraes. No rol dos inúmeros acusados levados para Lisboa estava Mariana. E é a partir de seu processo que pretendemos alcançar, ainda que em parte, sua história como prisioneira da Inquisição e com ela refletir acerca das vivências na América Portuguesa. Convivendo com seus “senhores” aquela mulher adquiriu elementos de outra religião, assim todas as declarações, acusações e defesas constituem elementos decisivos para o conhecimento de sua trajetória como uma escrava “marrana”. Até onde ela internalizou o judaísmo jamais saberemos, pois embora tenha negado pertencer àquela religião tudo indica tê-la praticado por vários anos. 

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Publicado

2012-11-14

Como Citar

Helena, M. (2012). A estrela de Davi da Nação Angola: o processo inquisitorial de Mariana Pequena (1713). Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/517

Edição

Seção

2012 GT 05: Gênero e Religião – Coords. Eliane Moura, Sandra Duarte de Souza