A transposição cultural da religiosidade bizantina para o principado Rus´ entre “cesaropapismo” e “teocracia”. Uma abordagem conceitual.

Resumo

Este trabalho pretende discutir a formação política associada à experiência do cristianismo, principalmente em sua forma Bizantina, durante a Idade Média. O Império Bizantino é um importante exemplo de sociedade que se orienta para a manutenção da ordem através de uma Ortodoxia Política isto é, tinha como base para a organização social a religião cristã, que em seus domínios funcionava em conjunto com o estado e era parte deste. Neste contexto, a religião cristã, embora submetida ao despotismo dos imperadores, se torna também um instrumento para delimitar a táxis (conduta) correta, incidindo diretamente na maneira como os imperadores deveriam proceder, assim como quais imperadores eram dignos de se manter no cargo ou não. Diante dessa exposição inicial, um problema se torna claro: quais são as abordagens possíveis para os estudiosos do medievo delimitarem essa experiência? Que instrumentos de análise podem trazer maiores contribuições para a compreensão dessa manifestação político-religiosa? Procuraremos discutir os conceitos referentes à essa experiência no período, sobretudo o debate sobre os conceitos de “cesaropapismo” à luz dos trabalhos de Max Weber, no segundo volume de Economia e Sociedade e de Gilbert Dagron em Empereur et Prêtre e de “teocracia” também a partir de Gilbert Dagron e de Celso Taveira, em sua tese intitulada O modelo político da Autocracia Bizantina: fundamentos Ideológicos e significado histórico. Também demonstraremos, como estudo de caso mas de maneira preliminar, a transposição desse modelo político-religioso para o principado Rus´ de Kiev entre os séculos X e XII. Tentaremos, desse modo, explorar os limites inerentes ao trabalho conceitual sobre o tema, objetivando demonstrar a viabilidade (ou não) desses dois conceitos para o estudo de nosso objeto, qual seja o da irradiação cultural dessa manifestação de religiosidade do Império Bizantino para o Principado Rus´, em dois contextos: o do batismo do grão-príncipe Vladimir de Kiev em 988 (circa) e o do início da produção cronográfica associada a este evento, onde procuraremos desvendar a apropriação (ou não) dessas noções em nosso estudo de caso.