Um terceiro lugar entre o céu e o inferno: o Purgatório
Resumo
A “morte domesticada” da Idade Média, esperada e reconhecida, vivida serenamente, em público, considerada como uma espécie de sono prolongado teria sido progressivamente substituída, a partir do século XII e XIII, por uma visão mais dramática do falecimento: a morte foi pensada como uma separação instantânea da alma e do corpo, seguida pelo julgamento imediato e particular de cada defunto. Por volta dos séculos XII-XIII surge um “terceiro lugar’’ na geografia do além-cristão, que consistiu na introdução de uma categoria intermediária entre os extremos opostos, temporária e não eterna: o Purgatório. A crença no Purgatório implicou a crença na imortalidade e a ressurreição, em que algo de novo para o ser humano poderia acontecer entre sua morte e a sua ressurreição. O objetivo desta investigação é mostrar de que forma o nascimento do Purgatório contribuiu para alterar essa noção de além-cristão que até então se tinha de que após o Juízo Final haveria dois grupos de homens para a eternidade: os eleitos, no Paraíso e os condenados, no Inferno.