Recepção e validação de hinos na Doutrina do Daime
Resumo
A presente comunicação aborda aspectos relativos à recepção e validação de hinos na Doutrina do Daime, primeira religião urbana da ayahuasca, fundada por Raimundo Irineu Serra na década de 1930, em Rio Branco, Acre. Dada a sua forma de apreensão, através dos hinos recebidos do astral, o que a caracteriza como religião eminentemente musical, as noções doutrinárias assim como o universo mítico-religioso, são inferidas, experienciadas e compreendidas durante o transe ritual - miração -, reafirmadas no cotidiano da irmandade. Relatos daqueles que conviveram com Mestre Irineu, hoje membros de centros de Daime que mantiveram seu recorte mítico-ritualístico próximo ao constituído pelo fundador, apontam noções de pertencimento ligadas não somente à semântica dos hinos, incluem ainda as musicais. Referendadas nas práticas de confirmação - "passar o visto", "passar a limpo" - validam como hinos do Daime, pertencentes à Doutrina, tocando a tênue linha que separa o hino verdadeiro daquele advindo de ilusões, comuns nas alusões à espiritualidade. Desde os tempos de Irineu, questões ligadas à recepção e validação de hinos são centrais na constituição doutrinária daimista, que tem no hinário de Irineu - "O Cruzeiro" - o eixo sobre o qual outros quatro foram contemporaneamente recebidos, na construção coletiva de seu cânone. Oficiais em todas as vertentes do Daime, neles podem ser facilmente observadas recorrências de ordem mítico-textual /rítmico-melódicas, identificadoras dessa música primordial do Daime. Citados e re-citados nas falas de antigos membros da religião, sobre as quais a presente comunicação se funda, esses cinco hinários revelam a força e coesão das práticas de seleção e valoração adotadas pelo coletivo daimista no decorrer dos 80 anos de sua história, seu papel no corpo de saberes aos quais os nativos aludem simplesmente - Doutrina!Downloads
Publicado
2012-11-15
Como Citar
Rabelo, K. (2012). Recepção e validação de hinos na Doutrina do Daime. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/475
Edição
Seção
2012 GT 17: Religiosidades, Simbolismo e territorialidades na Amazônia – Coords. Cynthia Martins, Paloma Sá Cornelio