“Eu penduro meu corpo em ganchos de ferro e sinto um prazer que não tenho como descrever”: contribuições da antropologia da religião às reflexões sobre experiências corporais em grupos urbanos

Autores

  • Fabiana Gama

Resumo

Este trabalho, fruto de uma tese de doutorado em antropologia, tem como ponto de partida a análise de alguns rituais praticados por jovens que utilizam seus corpos como meio de superação de limites. São homens e mulheres que fazem uso de práticas em que o corpo é rasgado, perfurado ou pendurado e através das mesmas, alcançam estados alterados de consciência similares ao que se denomina por “êxtase” ou “transe”. Georges Batalle (1973), estabelece uma analogia entre estes fenômenos da contemporaneidade com a experiência mística e, segundo ele, o gozo ou o êxtase funcionam num ambiente religioso, podendo ter consequências mais complexas nos casos em que estão fora de contexto. Nos êxtases místicos se ascende, se transcende a condição humana e se chega a um estado de perfeição através da união com Deus. Um exemplo é Santa Tereza de Ávila que no século XVI se tornou conhecida por seus atos de mortificações corporais. Muito devota e fascinada pelos santos penitentes, tanto se castigava quanto ordenava que suas seguidoras se exercitassem em atos de martírio, com o objetivo de domar as paixões castigando o próprio corpo. Por meio desses atos e de oração contemplativa também atingia episódios de êxtases nos quais referia ter contato com santos através da transcendência a um plano divino. Muitos líderes religiosos para afirmarem sua autoridade recorriam ao êxtase, alguns eram inclusive incentivados por influências populares da época e da cultura. Apesar do cristianismo ortodoxo ter procurado diminuir as interpretações místicas do transe que foram muitas vezes atribuídos ao diabo e tratados com exorcismo, algumas culturas ainda costumam acolher com muito respeito a pessoa que está em estado de êxtase, sendo por meio deste ato que se adquire status, respeito e visibilidade, a exemplo dos líderes carismáticos, como sacerdotes ou xamãs. Partindo destes exemplos, se pode questionar: o que se pode dizer a respeito de certas práticas realizadas fora de um contexto religioso? O que comunicam? A que e a quem servem? Qual o papel do corpo nestas experiências? Estes são alguns dos questionamentos levantados para tentar estabelecer um diálogo com a antropologia da religião com o objetivo de refletir sobre algumas práticas e experiências corporais da contemporaneidade.

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Publicado

2012-11-15

Como Citar

Gama, F. (2012). “Eu penduro meu corpo em ganchos de ferro e sinto um prazer que não tenho como descrever”: contribuições da antropologia da religião às reflexões sobre experiências corporais em grupos urbanos. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/461

Edição

Seção

2012 GT 12: Corpo, Cultura e Religião – Coord. Roberto Motta, Amurabi Oliveira