Diversidade cultural religiosa no congado mineiro – o corpo como mensageiro do sagrado

Autores

  • Rosângela Oliveira

Resumo

Durkheim (1989) e Mauss (1974) afirmam que uma sociedade não se reproduz somente por que os indivíduos se relacionam e pensam o mundo, mas porque seu movimento e dinamismo derivam da eficácia de forças sociais ativas. Forças que estão ligadas aos ritos e mitos cotidianos, à dinâmica que cada grupo imprime ao seu viver. As Irmandades do Rosário, representadas pelo Congado belo-horizontino, guardam características próprias em sua organização que recria e mantêm laços de parentesco consanguíneo e espiritual bastante complexos, que dão sentido a manifestação religiosa e cultural que os negros guardam desde o período da escravidão. A festa é o traço principal e vital dos grupos de Congado. É através da música e da dança, no Reinado de Nossa Senhora do Rosário, que os filhos da África, herdeiros dessa tradição ancestral, encarnam o homo festivus e retornam à África e se irmanam com seus ancestrais em Aruanda e com o próprio Cosmos. É quando, conforme Lucas e Luz (2006), os ‘pretinhos do Rosário’ louvam as divindades católicas, sobretudo Nossa Senhora do Rosário e os santos negros, ao mesmo tempo em que prestam honras e obrigações a seus ancestrais – uma concepção e atitude espiritual que nesta versão brasileira, se recobre de profunda dor e respeito devido à condição escrava de seus antepassados. É nessa dinâmica festiva/religiosa que os negros corpos que balançam se tornam mensageiros do sagrado, são comparados a arueira – arvore forte que dobra, mas não quebra, que se cura sozinha. São corpos que se curvam em trejeitos para encarnam os antepassados na dança sinuosa do Candombe – rito dos antepassados. São corpos que conforme a cosmovisão dos congadeiros, integram as conta do Rosário que os protege que todos devem zelar para que ele continue sempre firme. São pés e mãos que tocam firme o solo sagrado ligando as diversas dimensões do sagrado. Gestualidade presentes nos corpos femininos e masculinos, adultos, novos e velhos que dialogam silenciosamente com o Cosmos ao som dos tambores que entoam o balanço do mar que trouxe a Senhora do Rosário para suas vidas. Diversidade tão bantu e ao mesmo tempo tão brasileiras que enfrenta o desafio de sobreviver a modernidade.

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Publicado

2012-11-15

Como Citar

Oliveira, R. (2012). Diversidade cultural religiosa no congado mineiro – o corpo como mensageiro do sagrado. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/459

Edição

Seção

2012 GT 12: Corpo, Cultura e Religião – Coord. Roberto Motta, Amurabi Oliveira