O mundo no sertão do Cariri: processos sociais e simbólicos em dois grupos religiosos

Resumo

Tendo como base a etnografia de dois grupos religiosos (Associação Nossa Senhora Auxiliadora e Associação São João Bosco) no interior do estado do Ceará, o trabalho evidencia as transformações das práticas socioculturais dos indivíduos diante da intensificação do processo de globalização. A cidade de Juazeiro do Norte, onde os grupos estão localizados, tornou-se, ao longo de mais de um século, em um dos mais importantes centros de peregrinação popular do Brasil, o que motivou a formação de grupos locais calcados na tradição religiosa. A chegada de uma ordem religiosa européia à cidade, no inicio do século XX, trouxe diversos elementos globais que ainda geram constantes tensões e imprime reconfigurações nas vivencias locais. A nova prática religiosa trazida pelos salesianos pode ser ilustrada por um trabalho apostólico que visa o cuidado especial com crianças e jovens e pela devoção a novos santos salesianos oficializados pela Igreja, que sugerem um estilo de vida em sintonia com os objetivos da Congregação europeia. Para alcançar essas práticas, há um controle da Congregação quanto ao funcionamento dos grupos de leigos espalhados pelo mundo. É nessa tentativa de controle, exercido pelos salesianos, que associados, líderes, padres e superiores performam relações sociais e simbólicas que evocam um Juazeiro específico. O enraizamento da prática religiosa em Juazeiro recebe novos “deslocamentos de sentidos e significação”. Os dados desse trabalho (parte da pesquisa de minha dissertação de mestrado) dão conta que há negociações entre os envolvidos, seja na escolha dos nomes dos grupos, seja nas devoções italianas sugeridas, seja na vivência de um “espírito salesiano”; em todos esses casos, um Juazeiro geográfico e simbólico se destaca. A etnografia dos dois grupos é fundamental para a compreensão desses processos sociais e simbólicos ligados à existência dos grupos na cidade e nos oferece reflexões que confirmam o fortalecimento dos laços comunitários e sociais, que sobrevivem e readaptam-se ao um tempo de modernização.