Entre a lança e o solidéu: As ações políticas, religiosas e militares da condessa Matilda de Canossa no século XII

Resumo

Matilda de Canossa, condessa de Toscana, viveu entre os séculos XI e XII. Oriunda de uma família pertencente a mais alta estipe italiana, participou intimamente de um dos períodos de maior efervescência da Idade Média: a Reforma Papal empreendida por Gregório VII. Todo o legado de tradições canossanas não daria outro destino à condessa que não o de completo envolvimento com questões bélicas e políticas. Desde a mais tenra idade, a condessa participava de reuniões políticas e estratégias militares, levada por sua mãe, o que fez com que se familiarizasse com tais assuntos, tornando tal realidade intrínseca à sua trajetória. Única filha do marquês Bonifacio e da condessa Beatriz, Matilda assumiu muito cedo toda a riqueza, bem como todo o extenso território adquirido por seus antepassados. As cartas escritas por ela retratam a enorme demanda de assuntos administrativos, políticos, territoriais e militares que faziam parte da rotina de seu governo. A heterogeneidade e amplitude do território sob seu domínio levavam-na a usar de todo seu poder senhorial, na tentativa de mantê-lo subjugado.
Seu trânsito entre os zênites dos poderes secular, Henrique IV, e eclesiástico, Gregório VII, bem como o ato de recorrer à Matilda, praticado por ambos e por tantos outros nobres e religiosos, em busca de auxílio, só faz reforçar a importante e poderosa posição ocupada por ela dentro do cenário político. Suas epístolas continham, dentre outros assuntos, ordens e instruções referentes à doação de bens, terras e propriedades que lhe pertenciam, a igrejas, mosteiros ou a civis; sob pena de pagamento de multa a qualquer pessoa que ousasse desrespeitar seus decretos. Matilda casou-se por duas vezes e ambas as uniões se deram no âmbito puramente político, contribuindo para o aumento de sua riqueza e poder. Por não ter herdeiros diretos, tampouco qualquer familiar que lhe ajudasse a administrar seus domínios, coube à condessa desempenhar o papel de senhor feudal; tutora de toda a riqueza de Canossa e de gerir todos os encargos que advinham com o nome de sua família. Cargo que – a julgar pelos registros referentes à sua pessoa – desempenhou satisfatoriamente.