Percepções protestantes da Festa do Senhor do Bonfim, em Salvador-BA, no século XIX
Resumo
No século XIX, muitos viajantes estrangeiros católicos e protestantes estiveram no Brasil. Tinham diferentes interesses, como participar de expedições científicas, coletar exemplares da fauna e flora tropicais, fazer comércio ou evangelizar. Foram muito críticos em relação à vivência do cristianismo. Os protestantes Daniel Kidder, Louis e Elizabeth Agassiz e Robert Avé-Lallemant participaram ativamente das festas católicas de Salvador e nos deixaram suas impressões registradas em diários. Além de analisar essas crônicas, pretendemos apresentar alguns dados relativos à documentação encontrada que versa sobre as percepções protestantes sobre a festa do Senhor do Bonfim. O jornal presbiteriano A Imprensa Evangélica transcreveu um depoimento de um homem que se apresentou sob o pseudônimo Ignotus, relatando suas observações da celebração de 1888, da qual ele e um ou mais companheiros (uma vez que o relato é escrito na primeira pessoa do plural) resolveram “participar”, e que foi publicado no Diário de Notícias da Bahia, em 18 de janeiro do mesmo ano, no qual apresentaram um cenário bastante peculiar. Segundo ele, decidiram assistir “a cena grotesca e ao mesmo tempo penosa” para verem “a que estado de baixeza e aviltamento tem levado a religião do estado a este povo”. De acordo com os indícios da documentação, esses homens eram protestantes e pugnavam pela verdadeira conversão dos soteropolitanos, pedindo a Deus que desse “a lavagem de seu Espírito, na aplicação do sangue de Jesus a este povo que jaz nas trevas e na sombra da morte, fazendo com que ele, dessas coisas vãs, se converta ao Deus vivo”. A crítica continua mencionando a suposta inércia da Igreja Romana no que se referia aos festejos populares e a falta de verdadeiro sentimento religioso por parte dos fiéis, cogitando até mesmo a intervenção policial para ordenar o caos em que a cidade se transformava por ocasião da Lavagem da Igreja do Bonfim. Porém, o que os autores desta carta questionaram não foi a festa em si, mas a irreverência com que os participantes lidavam com a religião, realizando danças sensuais, gritarias e consumindo bebidas alcoólicas. Contudo, é preciso lembrar que as lideranças católicas da Bahia não estavam inertes, e sim, em conflito com a religiosidade popular e tentavam enfraquecer as práticas não institucionalizadas da religião, inclusive temendo a perda de espaço no mercado religioso baiano. A análise dessa carta visa também levantar questões sobre o embate proposto por alguns grupos protestantes no campo religioso baiano em finais dos oitocentos.Downloads
Publicado
2012-11-16
Como Citar
Edilece Souza, M. S. (2012). Percepções protestantes da Festa do Senhor do Bonfim, em Salvador-BA, no século XIX. Anais Dos Simpósios Da ABHR, 13. Recuperado de https://revistaplura.emnuvens.com.br/anais/article/view/420
Edição
Seção
2012 GT 23: Festas, ritos e devoções em lugares sagrados – Coords. Edilece Couto, Janio de Castro