Adolescentes e a poética das religiosidades: reflexões sobre crenças e invenções

Resumo

Esta pesquisa estuda a religiosidade de adolescentes do bairro Dom Bosco, situado na parte central da cidade de Juiz de Fora/MG, em suas redes de socialidades internas e externas ao bairro, sendo que a religiosidade é um dos instrumentos através do qual as condições atuais são vistas em seus percursos históricos. É uma região que faz divisa com importantes instituições públicas e privadas e com outros bairros ocupados por população de maior poder aquisitivo. Seus vizinhos, institucionais ou não, são medrosos da proximidade desta parcela de população vista somente sob foco de negatividades: baixa escolaridade, habitações degradadas, baixo poder aquisitivo, violentos e desobedientes das regras básicas de convívio social. São marcas diferenciais, sem dúvida, mas outras não são tão visíveis como, por exemplo, a instabilidade emocional provocada pela efemeridade das relações sociais e a feição comunitária do agrupamento. No que tange aos adolescentes é mais intensa ainda a carência de aparelhos sociais e culturais de suporte: a rua e as casas são os espaços de lazer, de cultura e de convivência. Existem, não obstante, mediadores inesperados e que funcionam como catalisadores e organizadores do cotidiano: os jogos de bola, as conversas sobre religiões e saúde e, principalmente, fofocas. Nesse universo instável, o estudo da adolescência e mesmo da juventude de forma mais geral deve lidar com o movimento em suas múltiplas configurações dinâmicas. As religiões recriam-se constantemente plasmadas na horizontalidade das relações pessoais, na fraqueza das instituições e no isolamento moral infringido pelas fronteiras impostas ao convívio com o restante da cidade. São essas condições propícias para o aparecimento de transformações religiosas que geram e perpetuam vivências algo diferenciadas dos demais grupamentos urbanos. Movências e deslocamentos. Inovações e angústia do desconhecido: instabilidade também teórica e metodológica. Para esse mundo cambiante, mais intenso para a juventude, Perrault (2005,p 165) propõe referências que permitem abordar e pensar a religião entre os jovens: 1) o recuo de um certo cristianismo, 2)a “recomposição-inovação” do religioso e 3)a individualidade, a subjetividade, os itinerários pessoais. Absorvo essas referências como formas de controle no campo operacional desta pesquisa, sendo que cada uma organiza um subtítulo do artigo apresentado nesta comunicação oral.