Entre práticas e apropriações: as inscrições Makuxi sobre o catolicismo na terra Raposa Serra do Sol

Resumo

Este artigo aborda a experiência católica dos índios Makuxi, em um dos lugares mais recônditos da Amazônia brasileira. A longa tradição cultural desses indígenas que vivem na aldeia Maturuca, na Terra Raposa Serra do Sol, em Roraima, mobiliza interpretações de um lado, sobre as particularidades do catolicismo romano - em intenso contato com outras cosmologias – e, de outro, sobre a (re)elaboração da identidade Makuxi, num contexto dinâmico de estratégias de poder e da recente retomada da terra. Para uma análise das características desse catolicismo e das formas como os indígenas operam essa experiência religiosa são acionadas algumas referências conceituais, à luz dos estudos realizados por Clifford Geertz, Michel de Certeau, Roger Chartier e Stuart Hall, que ajudam a refletir dois conjuntos de práticas: as celebrações eucarísticas da Semana Santa e do Natal, como eventos institucionalmente oferecidos pela Igreja Católica e (re)apropriados numa perspectiva étnica; a caminhada dos indígenas em direção ao cruzeiro no alto da serra e os festejos na comunidade, como eventos marcados pela evocação das tradições e dos valores culturais e religiosos. Note-se, contudo, que a nomeação dessas práticas é apenas um recurso para apreender os sinais de uma experiência religiosa amalgamada pela combinação de elementos que articulam tais práticas e que são devedores de sentidos construídos no cotidiano e pelo cotidiano. A aceitação, a inventividade e o desvio revestem o processo de negociação que perpassa a experiência católica dos Makuxi e seus esforços de afirmação identirária.