O espetáculo das Águas: religiosidades afro-brasileiras na Bahia republicana (1889-1930)
Resumo
O cenário é a nascente Bahia republicana em um momento de embate pelo controle simbólico da água, que denomino de espetáculo das Águas. A nascente República do Brasil vira a Bahia secundarizar-se política e economicamente. As elites baianas careciam de um projeto político que as integrasse no novo contexto nacional. Soma-se a este fraco desempenho externo, uma Bahia que não se “modernizara”. As manifestações religiosas públicas de afro-brasileiros serão questionadas de forma contundente pelas elites ilustradas e responsabilizadas pelo atraso cultural baiano. Se os primeiros lutavam pela consolidação de um espaço cultural, político e religioso em Salvador, os segundos lutavam para reordenar o mesmo espaço, porém inspirados na missão republicana de modernização e civilização, visando o retorno ao contexto nacional do poder. Propomos uma discussão sobre os festejos religiosos públicos dos adeptos do candomblé nagô na Primeira República, em um contexto de embates culturais e religiosos que caracterizaram o processo de implantação do projeto republicano pelas elites ilustradas, em Salvador, a partir da investigação da constituição histórica do Ritual das Águas de Oxalá e as relações estabelecidas entre este e outros dois marcos da Bahia republicana: a proibição da Lavagem da igreja do Senhor do Bonfim, em 1889, e as Reformas Sanitaristas que proporcionaram, na década de 1920, um aumento da repressão a estas comemorações. As fontes privilegiadas para tal análise serão os jornais baianos e as Posturas Municipais. Esta análise nos possibilitará verificar como ocorreram a constituição destas práticas religiosas que tinham como elemento fundamental o escorrer das águas.