Uma Microssociologia do Desvio Evangélico: Os Descentramentos de Narrativas Desviantes
Resumo
A igreja parece atenta à fala desajeitada, ele busca uma linha que consiga traçar entre as palavras e os sentidos que busca empregar. Os jargões sempre são a melhor saída, dizem o que todos querem ouvir, são simulacros de entendimento, comunicam apenas um pertencimento. “Estava desviado”, disse ele com orgulho da recuperação que agora afirma. A palavra desviado carrega muitos significados no mundo evangélico, tantos que não é preciso dizer todos; ao evocar a palavra cada um que a ouve recorre aos seus significados, aos pecados que os assombram, e que permanecem em sua luta diária para serem vencidos. “Deus me resgatou”, diz ele menos desajeitado e mais convicto, talvez perceba no rosto de sua plateia a aprovação de sua jornada. Mas o que é estar desviado? “Pecar” é estar desviado? “Estar no pecado” é diferente de pecar, dizem aqueles que controlam a economia que leva apenas alguns para o céu. No senso comum, estar desviado é uma condição daquele que peca e não se arrepende, ou seja, daquele que permanece no pecado.