DA ÁGORA AO INDIVÍDUO: O CORPO E CIDADE N’A HORA DA ESTRELA
Resumo
O objetivo central dessa apresentação é realizar uma leitura d’A Hora da Estrela, de Clarice Lispector publicada em 1977, pouco antes de a autora ser acometida por um câncer de intestino. Atentamos nessa leitura para a relação do corpo com a cidade na relatada história de Macabéa, alagoana, datilógrafa, bucólica, ingênua e sonhadora, menina-moça recém-chegada à cidade do Rio de Janeiro. O fio condutor da obra dá-se pela descrição da personagem através de Rodrigo S.M. (na verdade Clarice) que num momento de flash ao caminhar pela urbe encontra a personagem que passa descrever, procurando compreender a existência de um ser tão despossuído de si mesmo. Observamos aproximações possíveis com a obra do filosofo frankfurtiano Walter Benjamin quando este, ao se debruçar na Paris do século XIX, sobre as lentes poéticas de Baudelaire, procura compreender em meio às imagens da multidão o detrimento das experiências (Erfahrung) do indivíduo e a elevação do grau das vivências (Erlebnis), ou seja, a redução do poder de transmitir uma experiência vivida. Isso se aproxima do dilema da personagem perdida feito uma “cadela vadia (...) teleguiada por si mesma”, com receio de saber sobre a sua identidade em meio ao cenário da cidade.