Nuanças e controvérsias do apoio religioso a dependentes químicos
Resumo
O mundo contemporâneo enfrenta o sério problema do consumo abusivo de substâncias psicoativas (SPAs), algo traduzido sobremaneira no narcotráfico e
na corrupção, tanto em âmbito político, quanto policial. Isso ocorre atualmente, muito embora a utilização de substâncias narcóticas não seja novidade para
os seres humanos em geral. Os indivíduos sempre utilizaram produtos que permitissem
formas alternativas de alteração da consciência, havendo vários relatos
na literatura universal. A questão do uso de substâncias alteradoras da consciência tem importância para uma compreensão sociológica do mundo contemporâneo, dada a dramaticidade com que isso afeta as relações sociais, com implicações políticas e jurídicas. Para o enfrentamento desse problema, tem havido o desenvolvimento de métodos e alternativas de tratamento e atenção a pessoas com dependência química e psicológica, algo que envolve concepções sobre a condição humana e o controverso conceito de normalidade. Debate-se atualmente a questão da dependência química como um problema social, abrangendo formas de atenção e atendimento
oferecidos no Brasil, notadamente os tratamentos em iniciativas como as religiosas comunidades terapêuticas, os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas
(CAPS-AD) terapêuticas, o Programa Braços Abertos, da Prefeitura Municipal São Paulo e demais políticas públicas voltadas para essa realidade. Nesse texto, enfocamos o trabalho feito pelas religiosas comunidades terapêuticas, majoritariamente evangélicas pentecostais, abordando o serviço prestado por elas de apoio aos dependentes e suas famílias e também a controvérsia em torno do proselitismo envolvido em tal atividade.