A devoção mariana nos vitrais da catedral de Chartres (séculos XII-XIII): apontamentos conceituais e metodológicos
Resumo
O objetivo desta comunicação é apresentar alguns apontamentos sobre a devoção mariana que pode ser entendida não só como uma prática religiosa, mas também como um fenômeno social que é dotado de grande complexidade em virtude das diferentes variantes que se entrelaçam dentro de sua organização, manifestação e difusão.
Entendemos que, no caso de Chartres, a dimensão visual dentro do espaço sagrado tem um papel central para o estudo da devoção mariana, pois além de mostrar a História Sagrada, sua importância pedagógica e doutrinária, os vitrais se constituem em fontes iconográficas para a compreensão da cultura intermediária compartilhada entre os diferentes fiéis que frequentavam a catedral, a qual era a referência entre o mundo material e o espiritual (ponto de coesão) e ao mesmo tempo, espaço de tensão entre seus diferentes agentes sociais (nobres, clérigos, burgueses, artesãos, camponeses e peregrinos) que compunham a sociedade estamental medieval.
Entendemos que a construção da iconografia mariana está inserida não só nas representações da arte cristã, mas também presente no epicentro de uma história político-religiosa de grande intensidade, implicando nas tensões que envolviam a consagração da ortodoxia ou de uma legitimidade para a adoção de um modelo prestigioso ou ainda, o reconhecimento simbólico de uma área de poder, mas também, a expansão estereotípica da figura de Maria.