Jacob Baradeus
Resumo
O objetivo deste trabalho é ampliar a cosmovisão religiosa e cristã quanto à sua historicidade e construção doutrinária através de um olhar atento ao Oriente, tendo por base Jacob Baradeus (Yacoub Burd’ono, 505-578 a.C.), que foi um bispo sírio, originário da cidade de Tela, filho de sacerdote cristão, que seguia uma doutrina cristológica marcadamente não-calcedoniana. Ele desenvolveu sua vida ministerial dando enfoque especial às igrejas ortodoxas sírias do Ocidente, sendo responsável por recuperar a vivacidade das igrejas, reconstruindo muitas, e formando outras diversas em todo o Oriente, a partir da Síria.
Viveu em uma época de conflitos doutrinário-teológicos onde os imperadores romanos interferiam nessas questões perseguindo, exilando e sufocando todas as opiniões divergentes à doutrina cristã ortodoxa calcedoniana. Devido a isto, a Igreja Síria do Ocidente, que seguia as convenções teológicas alexandrinas, fora perseguida, pois tinha proposição doutrinária diferente do poder dominante. Já como bispo missionário de Edessa e enviado de volta a sua terra natal, Baradeus conseguiu pregar por volta de trinta e sete anos em todo o Oriente. Uma das estratégias para fugir da perseguição imperial foi andar em trajes pobres (daí o apelido “Baradeus”, derivado do siríaco “baradai” que significa vestido de trapos). Nos seus relatos, conta-se que curou enfermos, ressuscitou mortos, livrou cidades de destruição iminente pela sua intercessão, além de conhecidamente praticar a glossolalia e outros dons místicos.
Os seguidores e membros das igrejas sírias ortodoxas que seguiam Baradeus ficaram conhecidos como “jacobitas”. Havia forte separação entre Igreja e Estado e por terem um pequeno número de clérigos, isto lhes dava a imagem de serem menos hierárquicos e mais próximos do povo, desenvolvendo, assim, uma grande rede de mosteiros e igrejas.
Encontramos até hoje dezenas de milhares de cristãos jacobitas (hoje a Igreja se de[1]nomina “Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia”) espalhados por todo o mundo. Essas igrejas, há alguns anos, começaram a se estabelecer no Brasil, e hoje, estão presentes em boa parte do Centro-Oeste e no Norte do país. Assim, esta presente comunicação pretende resgatar parte da memória deste personagem e trazer para a historiografia o conhecimento milenar desta facção cristã, pois isto é tarefa importante para os historiadores da religião e demais pesquisadores, no intuito de integrar ao conhecimento ocidental a história, cultura e sociedade das igrejas orientais.