Nação islâmica e nacionalismo no Islã político.
Resumo
Após a Primeira Guerra Mundial, o princípio da nacionalidade impôs-se como condição sine qua non para a legitimidade dos Estados. Assim sendo, o nacionalismo foi um dos produtos da modernidade tardia introduzida nos países árabes – bem como nas demais novas unidades políticas fora da Europa – e que se constituiu como um complexo campo de disputas de poder - quer político, social ou outras formas - na medida em que a nação, este construto cultural, conferia legitimidade aos atores históricos. Neste sentido, partindo do conceito de nação proposto por Benedict Anderson (2008) como uma comunidade política imaginada, e imaginada como sendo limitada e soberana, o artigo pretende analisar a ideia de nação no discurso islamista a partir da experiência dos Irmãos Muçulmanos no Egito, considerado o movimento fundador do Islã político, entre as décadas de 1920 e 1980, partindo da seguinte questão: de que forma é possível pensar a ideia de nação no discurso islamista da Irmandade Muçulmana? O Islã político – ou islamismo - apresentou-se como um importante fenômeno “contracultural” (ARMSTRONG, 2001) em relação à secularização das sociedades islâmicas e à falência de um determinado modelo de modernidade imposta aos países árabes com a experiência colonialista do século XIX e parte do XX, propondo um retorno à um tipo ideal de associação entre Estado e religião, para a construção de uma nação islâmica no qual a ideia de Umma sobrepõe-se às demais identidades como coletividade. Contudo, as mudanças ocorridas no movimento ao longo do tempo fazem do conceito de Islã político um abrigo de formas múltiplas e mesmo ambíguas de discursos e práticas. Ademais, “o Islã Político é apenas mais um corte do Islã, como vivência coletiva, e do pensamento islâmico, com suas várias possibilidades de interpretação” (METZGER, 2008, p.13).